Por: André | 24 Setembro 2015
Sob um forte esquema de segurança, a cidade de Washington prepara-se para a visita do Papa Francisco, que chegou à capital estadunidense procedente de Cuba. Os norte-americanos se preparam para três dias de ruas bloqueadas, metrôs e ônibus cheios, aglomerações, fortes esquemas de segurança e linhas de telefonia celular saturadas, por ocasião da visita do pontífice.
Fonte: http://bit.ly/1WjvQUy |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 23-09-2015. A tradução é de André Langer.
A visita do pontífice é considerada pelo Departamento de Segurança Nacional “um evento nacional de segurança especial”. Embora não haja ameaças fundadas contra Francisco, as autoridades estadunidenses reforçaram as medidas de segurança para evitar atentados terroristas ou ataques de “lobos solitários”.
Especialistas comparam o impacto que a visita do papa terá na vida cotidiana da cidade à cerimônia de posse dos presidentes estadunidenses. Mas o raio em que Jorge Bergoglio se moverá é maior que em uma posse, razão pela qual vários bairros da cidade se verão afetados pelas restrições.
Por isso, as autoridades da cidade aconselham a deixar o carro em casa nestes dias e usar o transporte público. Embora os serviços públicos federais estejam funcionando, aconselharam os seus funcionários a trabalharem em suas casas. E várias escolas estarão fechadas.
Coincidindo com a visita do papa, o Serviço Secreto dos Estados Unidos lançou uma nova web e um aplicativo para telefones celulares gratuito pelo qual os estadunidenses poderão receber alertas de segurança e informações de seu interesse. Atiradores de elite estarão a postos nos terraços de edifícios que se encontram no percurso do pontífice para evitar atentados.
Com exceção do percurso que o papa fará no papamóvel pela Elipse, o parque situado ao sul da Casa Branca, para a maioria dos eventos em Washington necessita-se de um ingresso.
Além das armas e bebidas alcoólicas, está proibido levar neveiras portáteis, mochilas, bicicletas e paus de selfies, entre outros objetos. Também está proibido o uso de drones durante a visita do papa.
Os líderes do Congresso enviaram um memorando dando instruções aos congressistas e senadores para que se comportem durante a visita do papa e não tratem de dar-lhe um aperto de mãos, de tocá-lo ou fazer selfies com o pontífice.
Em algumas lojas e postos de rua serão vendidas lembranças da visita de Francisco, desde camisetas até bonecos do pontífice, passando por livros de orações e terços. O papa também serviu de inspiração para os donos do restaurante Rumors, no centro de Washington, que vende o sanduíche Holy Land (Terra Santa). É feito com franco com molho chimichurri, queijo provolone e molho vinagrete, entre outros ingredientes.
O Papa Francisco visitará os Estados Unidos de 22 a 27 de setembro, procedente de Cuba. Entre os atos previstos em seu programa destacam-se seus discursos no Congresso dos Estados Unidos e na Assembleia Geral das Nações Unidas, uma missa campal no Madison Square Garden de Nova York e sua participação no encerramento do Encontro Mundial das Famílias na Filadélfia.
Quanto aos seus fiéis, longe de alarmar-se por suas condenações do consumismo e da cobiça e por sua atitude mais tolerante em relação aos gays e o aborto, que tanto inquietam os conservadores dos Estados Unidos, o clero hispânico do país identifica-se plenamente com a pregação de Francisco, o “papa vileiro” que fala espanhol e defende os pobres.
“Os padres hispânicos que eu conheço são muito favoráveis a esta abertura do papa. Veem nisso um renascer da Igreja, a recuperação de um prestígio que ela tinha perdido”, disse o padre argentino Carlos Mullins, que está há 40 anos em Nova York trabalhando com a comunidade hispânica. “Alguns anos atrás, a Igreja católica estava muito desprestigiada pelos casos de pedofilia. O papa, em dois anos, conseguiu que a Igreja novamente seja respeitada, a não ver unicamente o negativo. Até Raúl Castro disse que o papa ‘está conseguindo que eu volte a ser católico’”.
Os padres de origem latino-americana garantem que o papa, que em 22 de setembro iniciou sua visita aos Estados Unidos, é um homem compreensivo, que fala claro e não julga nem condena ninguém; quer estar em contato direto com as pessoas e não contradiz a doutrina da Igreja nem a está mudando.
Para o bispo Daniel Flores de Brownsville, Texas, presidente do Comitê para a Diversidade Cultural na Igreja da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, Francisco deu “uma resposta muito cristã” a temas de atualidade devido à sua preocupação com o ser humano e as pessoas que sofrem. O pontífice deseja escutar o povo e dar-lhe uma resposta “humana”, assinalou. Além disso, fala com espontaneidade.
“É um novo modo de falar. Afeta o modo de receber a mensagem”, disse Flores. “O Evangelho é o Evangelho e o papa o anuncia com muita força”.
Francisco surpreendeu a muitos em 2013 com sua famosa frase: “Quem sou eu para julgar?”, quando foi perguntado sobre padres gays. Mesmo se opondo ao matrimônio homossexual, o papa animou a Igreja a ser menos crítica e mais misericordiosa com os homossexuais. Seus comentários foram considerados muito menos sentenciosos que os de seu predecessor Bento XVI, que assinou um documento em 2005 dizendo que os homens com claras tendências homossexuais não deveriam ser padres.
Por outro lado, o pontífice anunciou recentemente que permitirá que padres comuns absolvam, durante o chamado Ano da Misericórdia, as mulheres que se arrependerem em confissão de terem cometido aborto.
Francisco foi criticado por políticos republicanos e instituições como o Instituto Acton, organização conservadora de Missouri que estuda a religião, devido às suas denúncias de sistemas econômicos que “idolatram” o dinheiro acima das pessoas e as suas afirmações de que a economia mata e exclui. Representantes do centro disseram que, pelo contrário, a globalização ajudará os países mais pobres.
Francisco também pediu que as mulheres exercessem papéis mais importantes na Igreja.
Aproximadamente 3% dos padres nos Estados Unidos se identificam como hispânicos, segundo dados do Center For Applied Research in the Apostolate, um centro de pesquisa ligado à Universidade de Georgetown. Um total de 5.544 paróquias no país – ou seja, 26% do total – servem de forma específica comunidades católicas hispânicas, indica o centro. Para os jovens hispânicos que estudam no seminário eclesiástico de São José, em Yonkers, nos arredores de Nova York, a visita de Francisco terá um impacto que será sentido durante anos.
“Agora se nota o reflexo da visita do Papa Bento XVI aqui (há sete anos)”, disse Osvaldo Hernández, um seminarista dominicano de 28 anos. “Veremos como o Papa Francisco leva aos jovens sua mensagem de serviço”.
Outros seminaristas, como o boliviano Saúl Llacsa, de 29 anos; o portorriquenho José Arroyo, de 31; o mexicano Erialdo Ramírez, de 26, e o salvadorenho Daniel Rivera, de 32, servirão nas Vésperas da Catedral de São Patrício ou na missa ou no ginásio Madison Square Garden quando o pontífice falar nestes lugares.
Ramírez destacou como o primeiro papa latino-americano “está conectado culturalmente conosco”. Mas a devoção por Francisco parece ultrapassar os laços culturais.
“É um papa genuíno que fala do coração. Sempre está apegado às pessoas, é um papa do povo”, disse Vargas. Rivera assinalou que, além disso, Francisco não contradiz os ensinamentos da Igreja e não age de forma imprudente.
“Sua mensagem é meditada e rezada”, assinalou. “É sua personalidade que é diferente”. Ramírez comentou que, no entanto, existe o perigo de que se banalize a figura do papa e que então não seja considerado.
Francisco fará apenas quatro dos seus 18 discursos nos Estados Unidos em inglês, ao passo que falará em espanhol na grande maioria de suas homilias, saudações e outras declarações. Além do idioma, outro elemento em comum que o papa tem com o clero hispânico é que este trabalha com comunidades pobres, assim como o papa fez na Argentina, onde trabalhou em favelas.
A imigração é um dos temas que o clero hispânico espera seja prioritário para Francisco, sobretudo agora que o país vive um agitado debate sobre o tema após as polêmicas declarações do aspirante republicano à presidência Donald Trump contra imigrantes ilegais.
Luis Saldaña, padre mexicano e diretor espiritual do seminário, disse que também espera ouvir o pontífice falar sobre o tema migratório devido à crise de refugiados na Europa.
“Creio que ele será muito direto na hora de falar sobre a necessidade de ajudar os imigrantes”, assinalou. Que reduza divisões é algo que os hispânicos católicos nos Estados Unidos querem ouvir do pontífice. “Espero que o papa dê a mensagem de que todos estamos aqui e que Deus não faz diferenças, que todos somos iguais, que todos somos humanos”, disse Pepe Valdés, um dos integrantes da Associação Católica de Líderes Hispânicos que verão o papa na Filadélfia durante o Encontro Mundial das Famílias.
Cem mulheres chegarão hoje [ontem] a Washington, após uma peregrinação de cem milhas, ao grito de “sim, é possível” e com dezenas de cartazes coloridos, nos quais pediram ao Papa Francisco para que “toque o coração” dos Estados Unidos e estendam sua mão aos milhões de imigrantes indocumentados do país.
“Esta peregrinação relembra aquela feita por todos os imigrantes indocumentados para chegar aos Estados Unidos. É um caminho de perdas e esperanças”, relatou à agência de notícias Efe a mexicana Juana Flores, uma das peregrinas que chegou à igreja católica de Plymouth, em Washington, coincidindo com a chegada do Papa Francisco ao país.
A recepção das mulheres em frente ao templo (foto) converteu-se em uma festa com abraços, beijos, gritos de alegria e cantos religiosos, que se misturaram com alguns hinos dos trabalhadores do campo, como “De colores”, e bandeiras azul celeste em que brilhavam frases do Papa Francisco.
“À globalização da migração é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação”, dizia uma das bandeiras, que ecoava uma mensagem escrita pelo papa em 2014 por ocasião da Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, que se celebra em janeiro.
Para mulheres como Juana Flores, a primeira visita aos Estados Unidos do primeiro pontífice latino-americano representa uma oportunidade para pedir solidariedade, respeito e igualdade ao país em que escolheram viver e para onde chegaram após duras caminhadas através do deserto ou arriscando suas vidas atravessando a nado o Rio Grande.
“Fiz o trajeto caminhando alguns trechos e correndo outros. um ‘coiote’ (traficante de pessoas) me fez passar pela fronteira de Tijuana (México) com os Estados Unidos e outro ‘coiote’ levou os meus filhos. Foi bem difícil. Recordo que nesse momento tinha medo de perder os meus filhos”, recorda Flores, que agora mora em San Francisco (Califórnia).
“Durante estas cem milhas pensei nesse caminho que fiz para chegar aos Estados Unidos. É uma peregrinação de perdas: perdi minha terra, minha família, minhas raízes... Mas também é uma peregrinação de esperança por um futuro melhor”, acrescentou Flores, que foi monja durante 10 anos em Oaxaca (México).
A vida das mulheres tem sido cheia de desafios e algumas delas foram deportadas antes mesmo de poderem participar das manifestações, que começaram no dia 15 de setembro em frente à prisão do condado de York (Pensilvânia), onde os organizadores da marcha garantiram haver vários imigrantes presos à espera de serem deportados.
A fim de tornar presentes aquelas que não puderam participar, um grupo de peregrinas carregou durante toda a marcha um cartaz com os dizeres: “Chega de deportações” e na qual algumas imigrantes deportadas, como Mirna, escreveram: “Presidente Obama, peço a Deus que nos ajude para nos reunirmos com os nossos familiares”.
Com um desejo similar, Esperanza Domínguez, mexicana que mora em Denver (Colorado), decidiu colocar as botas e começar a marcha. “Em solidariedade com o meu povo, por amor à minha família, porque, assim como toda essa gente, também sou imigrante e Deus me encomendou a missão de trazer amor e unidade para que o papa possa ver o sofrimento dos imigrantes e seja a voz que precisamos para tocar o coração dos Estados Unidos”, disse Domínguez à agência Efe.
A mulher, que sofre de câncer nos ossos, participará, junto com outras nove companheiras do grupo, de uma cerimônia que acontecerá [aconteceu na quarta-feira] no jardim da Casa Branca. A previsão é de que 15 mil pessoas participem dessa cerimônia e onde o presidente Barack Obama fará a saudação ao Santo Padre.
Depois da multitudinária recepção, as mulheres vão percorrer algumas ruas de Washington com seus cartazes e cânticos para chegar, já passado das 16h, na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, uma das maiores igrejas dos Estados Unidos.
As 100 mulheres têm a previsão de celebrar uma vigília esta noite na Praça McPherson a poucos metros da Casa Branca, recuperar as energias, curar as bolhas produzidas pela caminhada e rezar juntas para que o Papa Francisco escute seus rogos e levante a voz em defesa dos indocumentados.
A chegada do pontífice a Washington gerou grande expectativa entre a comunidade imigrante, que espera que o papa se coloque do seu lado com uma mensagem de reconciliação em um momento em que o debate migratório está à flor da pele por causa da proximidade das eleições presidenciais de 2016.
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Os Estados Unidos classificam a visita do Papa como “um evento nacional de segurança especial” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU